Manual de convivência na selva do Lar
Dicas para o convívio entre adultos, bebês, crianças e adolescentes em tempos de reclusão
André Trindade
A situação de confinamento que estamos vivendo exige inúmeras adaptações e esforços. Proponho aqui alguns caminhos e reflexões.
A organização do tempo
A questão da utilização do tempo atinge todas as famílias. O tempo da escola (pública ou privada) é um tempo cronológico, organizado sequencialmente em rotinas que se repetem. O tempo de casa tende a ser um tempo subjetivo (por mais que os adultos se esforcem para torna-lo objetivo), principalmente quando expandido dessa forma que estamos vivendo. Isso tem um grande impacto na organização psíquica tanto em nós, quanto neles.
Sugiro que se crie uma tabela de horários em uma cartolina afixada numa parede, ou num quadro negro, à vista de todos. Não adianta escrever em uma caderneta perdida dentro da gaveta. É preciso que todos possam vê-la o tempo todo pois facilmente nos esquecemos de novos hábitos e regras. A casa deve se transformar em uma espécie de acampamento com a participações de todos.
As refeições
É importante estabelecer os horários das refeições; que se faça ao menos uma refeição em família, que pode ser o jantar, por exemplo. Comer cada um em um momento não é indicado. Comer no quarto ou em frente a uma tela também é contra indicado.
Comer em frente a uma tela é prejudicial à saúde física (mastigação, deglutição, digestão e absorção dos alimentos), e à saúde mental (desfrutar e perceber os sabores, comunicar-se com as pessoas, trocar ideias, olhares, estabelecer cumplicidade em relação ao momento vivido). Essa já é uma regra para a vida normal e ganha ênfase nos tempos de restrição.
Trabalhos domésticos
Varrer a casa, o quintal, regar plantas, colocar comida para o cachorro, colocar e tirar a mesa, aprender a lavar a louça sem quebrar os pratos (algum há de ser quebrado), arrumar o quarto, preparar um lanche.
A ideia de cooperação é fundamental!
É importante que todos participem (crianças, adultos e adolescentes)
Largar o celular
É preciso que os adultos larguem seus celulares para se comunicarem e interagirem com os filhos. Que silenciem os grupos de WhatsApp.
É preciso também que crianças e adolescentes desgrudem os olhos das telas. A atitude exemplar do adulto é fundamental. Não funciona a regra: “faça o que eu digo e não faça o que eu faço”. A tabela fixada na parede vai ajudar nos momentos de “desligar-se” dos eletrônicos.
Sobre a arrumação das gavetas
O tempo livre (preso) pode ser um tempo importante para os filhos fazerem uma “limpa” em tudo aquilo que não serve mais: brinquedos, roupas, tralhas em geral.
- Vai arrumar sua gaveta que eu quero ver depois como ficou, diz o adulto.
Isso não funciona.
Eles vão precisar de ajuda para selecionar os objetos e esse pode se
tornar um momento precioso, se encarado simbolicamente como um ritual de transformação, de deixar o que é “velho” para trás e abrir espaço para ser preenchido pelo “novo”.
Nessa seleção deve-se respeitar aquilo que faz sentido para eles e não necessariamente a lógica prática do adulto. Uma criança pode querer guardar uma boneca velha, um coelho de pelúcia que já perdeu as orelhas e o adolescente talvez queira guardar um tênis apertado ou uma blusa em frangalhos. Há uma negociação importante entre a praticidade dos espaços nos armários e prateleiras e os objetos afetivos.
Tempo de presença
Também não adianta esperar das crianças que elas cumpram as propostas sem a ajuda dos adultos:
- Vai se acalmar e volte aqui quando você já estiver equilibrado!
Não funciona.
-Não tem nada para fazer, diz o filho.
- Vai inventar uma brincadeira e quando acabar conversamos, responde o adulto.
Não funciona.
A criança e mesmo o adolescente vão precisar da participação inicial do adulto para muitas iniciativas, desde escolher um assunto interessante no Youtube, iniciar uma brincadeira criativa, largar o computador ou se tranquilizar.
Não podemos esquecer que a maioria dessas crianças estavam “terceirizadas” em rotinas nas escolas , nas creches e por agendas completamente preenchidas de atividades extras. Elas não foram preparadas para se autogerirem e para funcionarem sem um constante estímulo externo.
Será preciso que ganhem autonomia, mas isso não se faz de um dia para o outro.
Manual de convivência na selva do Lar
Dicas para o convívio entre adultos, bebês, crianças e adolescentes em tempos de reclusão
André Trindade
A situação de confinamento que estamos vivendo exige inúmeras adaptações e esforços. Proponho aqui alguns caminhos e reflexões.
A organização do tempo
A questão da utilização do tempo atinge todas as famílias. O tempo da escola (pública ou privada) é um tempo cronológico, organizado sequencialmente em rotinas que se repetem. O tempo de casa tende a ser um tempo subjetivo (por mais que os adultos se esforcem para torna-lo objetivo), principalmente quando expandido dessa forma que estamos vivendo. Isso tem um grande impacto na organização psíquica tanto em nós, quanto neles.
Sugiro que se crie uma tabela de horários em uma cartolina afixada numa parede, ou num quadro negro, à vista de todos. Não adianta escrever em uma caderneta perdida dentro da gaveta. É preciso que todos possam vê-la o tempo todo pois facilmente nos esquecemos de novos hábitos e regras. A casa deve se transformar em uma espécie de acampamento com a participações de todos.
As refeições
É importante estabelecer os horários das refeições; que se faça ao menos uma refeição em família, que pode ser o jantar, por exemplo. Comer cada um em um momento não é indicado. Comer no quarto ou em frente a uma tela também é contra indicado.
Comer em frente a uma tela é prejudicial à saúde física (mastigação, deglutição, digestão e absorção dos alimentos), e à saúde mental (desfrutar e perceber os sabores, comunicar-se com as pessoas, trocar ideias, olhares, estabelecer cumplicidade em relação ao momento vivido). Essa já é uma regra para a vida normal e ganha ênfase nos tempos de restrição.
Trabalhos domésticos
Varrer a casa, o quintal, regar plantas, colocar comida para o cachorro, colocar e tirar a mesa, aprender a lavar a louça sem quebrar os pratos (algum há de ser quebrado), arrumar o quarto, preparar um lanche.
A ideia de cooperação é fundamental!
É importante que todos participem (crianças, adultos e adolescentes)